Tradutores têm como ferramenta de trabalho o computador. Por uma questão de mercado, a vasta maioria usa computadores rodando Windows. Mas há um número crescente de tradutores usando Apple Macs.
Os Macs foram uma revolução no mundo dos computadores, isto é inconteste. Lembro o frisson que seu lançamento causou, mesmo em nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve. Para quem não começou a trabalhar na década de 80, havia um troço chamado Lei de Informática, cuja intenção era proteger o “similar nacional”. Essas besteiras nacionalistas e obscurantistas. Em 82, comecei a trabalhar com computadores. Era a Idade da Pedra Lascada da computação. Primeiro, os terminais burros da IBM que, pasmem, tinham correio eletrônico. Eram conectados a um mainframe gigantesco, que ficava no CPD, uma sala que mais parecia um iglu de tão gelada. Deus habitava este local – o analista e suporte de sistemas. Se o terminal piscasse, Deus tinha que ser invocado, parar tudo e esperar vir alguém para apertar uma tecla.
Do terminal, passei para os computadores de 8 bits. Um frigobar Scopus, tela de fósforo verde que doía nos olhos, rodando CP/M. Doía tanto nos olhos que em 1 ano de uso tive que trocar a receita dos óculos 2 vezes! CP/M dirão vocês? What the hell is that? Simples, o precursor do DOS, que não foi escrito pelo Bill Gates. Funcionava, linha de comando e tínhamos processador de texto. Wordstar! Um portento. Que delícia escrever, voltar, corrigir, imprimir em quantas vias necessárias na matricial que ressoava pelo andar todo. Só que não tinha acento. Tínhamos que redigir tudo, revisar e só depois inserir os acentos… Tarefa inglória, mas perto de escrever tudo em 3 vias na IBM de esfera, que maravilha.
Aí, em janeiro de 84, a Apple lança o Macintosh, o computador com interface gráfica e mouse!! Que coisa linda!!! Nada de ficar escrevendo e editando linhas de comandos. Viram o filme e entenderam o furdúncio todo? Mas como no Brasil tínhamos a Lei de Informática, aquilo era um sonho distante, só importado e, claro, custando uma fortuna. Só o pessoal “artístico” usava. Mas era o tema da conversa dos deuses do CPD. Como não havia youtube, twitter, nada disso, ouvimos falar do icônico comercial. Aí está ele para quem não conhecia. E lá ficamos batucando na linha de comando.
Esqueci do Mac, aprendi o DOS, veio o Word e Lotus 1-2-3. Fui usando até o dia em que fui trabalhar numa editora e me puseram diante de um Mac. Igual àquele que o Steve tirou da caixa, a “torradeira”. Imaginem vocês detepar naquela telinha de 10 polegadas P&B. Logo depois compraram um IIFx com monitor colorido. Que maravilha trabalhar com a interface gráfica. Na época, o Windows engatinhava, era ainda uma judas windows, nada de uma janela completa. E lá fiquei, de 1990 a 1999 no mundo Mac.
Mac só serve para artista gráfico, não serve para o público. Mac é caro, Mac não é compatível. Nunca dei bola pra isso. Durante anos, traduzi livros em um Performa, usando Word for Mac e a editora nunca desconfiou.
Aí mudei-me para a Inglaterra. Quelle horreur, tive que conviver com o Ruindows 98/ME. Depois de ter passado anos e anos na facilidade do ambiente Mac, ter que trabalhar naquilo. E o pior, a Inglaterra é plana e nem colinas por perto eu tinha.
Tudo mudou, os Macs hoje são caros, mas muito mais acessíveis do que há 10 anos. São compatíveis, os programas custam praticamente o mesmo, aliás sempre foi um mito em que muitos teimosos ainda acreditam, e muitos tradutores estão migrando para a plataforma.
Por quê? Aguardem o próximo capítulo.